há 21 dias estávamos nos despedindo da minha irmã Monica, hoje decidi escrever algo sobre esse momento.
não sei por onde começar, desde esse dia tenho tido tantas conversas e reflexões com pessoas próximas.
é difícil e doloroso processar a partida de alguém querido, e se for repentino torna-se muito mais difícil. assim foi a partida da minha irmã, repentina. eu estava numa clínica fazendo exames quando o telefone tocou, meia hora depois uma amiga chegou ao hospital e soube da gravidade da situação e me ligou dizendo que era para eu ir para lá pois a situação da minha irmã era grave. as pernas tremem, o raciocínio fica um tanto comprometido. Durante a viagem até o hospital eu tinha vontade de chorar mas as lágrimas não saiam, foi um choro interrompido, a sensação de angústia e medo era tamanha, acho que no momento eu pensava que se chorasse seria admitir que eu acreditava que minha irmã estava partindo. por um momento eu tive a sensação de que não sabia rezar, tudo fica muito confuso. cheguei no hospital e minha irmã já havia desencarnado.
apesar da dor e da profunda tristeza era preciso retomar o equilíbrio pois precisava ligar para os familiares e amigos, encontrar minha mãe que não estava em casa, buscar ser forte para ser apoio para meus pais. e então tentar colocar em prática o que tenho aprendido, lido, crido sobre as experiências da vida. Tenho conversado muito com amigos e pessoas próximas e refletimos juntos sobre a vida.
Deus sabe de todas as coisas: busquei evitar a revolta e o questionamento, sou cristã espírita, e como cristã acreditamos que Deus sabe de todas as coisas, Deus é a sabedoria suprema do universo, e tudo acontece por uma razão, ou, nada acontece por acaso. Ademais, do que adianta revoltar-se por algo que não se pode consertar, ou voltar atrás. Acredito que a revolta somente deixa a dor num nível mais insuportável. Eu pedia a Deus que amparasse minha irmã na pátria espiritual, e pedia forças, que fortalecesse a minha família e a meu cunhado. O que mais se pode fazer num momento como esse se não aceitar a situação, reconhecer nossa fraqueza e pedir forças?
Algumas pessoas diziam "Deus sabe de todas as coisas, ela poderia ter sobrevivido e ficado com graves sequelas"... , mas fiquei pensando "nesse caso também não teria sido "Deus sabe de todas as coisas"?, me lembrei do pensamento na Bíblia: "a folha de uma árvore não cai sem a vontade de Deus". então penso que toda experiência vivida tem seu propósito e razão de acontecer.
Há pessoas que acham que os espíritas não sofrem diante do desencarne de alguém, não é certo. Sofremos sim, e muito. Entendemos que nos encontraremos todos na pátria espiritual e que a vida continua, mas agora no presente a dor da saudade é grande, é muito difícil dizer adeus.
Todos somos um e estamos conectados: acredito que toda experiência vivida, seja de dor, êxito ou prosperidade, não é unicamente para o ator central da experiência, ela atinge a todos a sua volta, em níveis diferentes, creio sim que reflete em tod@s. Se minha irmã tivesse sobrevivido, com sequelas ou não, acredito que teria sido para algum aprendizado e reflexão, teria sido algo que deveria ser vivido.
Dor não se mede: não há balança para dor, ainda que aos nossos olhos humanos algumas experiências são vistas como mais dolorosas do que outras, e bem da verdade algumas são sim muito dolorosas e difíceis, mas não acho saudável agirmos como se fossemos os únicos a sofrer no mundo, ou como se nossa dor fosse a maior de todas. É triste, mas a todo momento, em todo lugar e por motivos diversos, há pessoas sofrendo. Não soframos como se fossemos os únicos, não sejamos egoístas. A dor que porventura sentimos não é maior ou menor que a do outro, é simplesmente a nossa dor, não se mede. a sua dor dói muito em você, a dor do outro dói muito nele. Mas também cuidemos para sentir a dor no seu "tamanho certo", ou seja, não chorar a dor de uma unha encravada como se fosse a perda de um dedo...
Está doendo? Peça forças a Deus e lembre-se que nesse momento há outros que também choram, então por que não pedir consolo e serenidade para tod@s?...
(...) Tudo na vida tem uma razão de ser... (...) pelo amor ou pela dor...: toda experiência, seja boa ou difícil, tem uma razão e um propósito, e se estivermos com o coração aberto poderemos perceber os ensinamentos e as oportunidades. Tudo tem sentido, nada é em vão. Várias pessoas tem aprendido com experiências dolorosas, perdas e doenças, mudam o rumo de suas vidas, passam a relacionar-se de forma diferente, mais construtiva.
Gratidão: Em duas semanas vivemos dois momentos tendo minha irmã como ponto central: seu casamento e seu desencarne. Nesses dois momentos experimentamos a solidariedade e o carinho dos familiares e amigos, é muito bom sentir-se querido e amparado. Foi a força tarefa para arrumar os preparativos do casamento, bolo, bem-casado, limpar o salão da igreja, fotografar, filmar, levar os quitutes para a igreja... ajudar a ligar para os familiares e amigos, a presença constante, o abraço apertado, as flores, o calmante, as orações, os e-mails daqui, dali, do outro lado do oceano, torpedos e ligações cheios de afeto, o abraço apertado...
Desde então tenho percebido relacionamentos que estão se fortalecendo, laços que estão sendo restaurados, novas amizades que surgiram... e fico pensando que realmente tudo tem uma razão, motivo, um propósito. Que tenhamos sempre o coração aberto para aprender, buscar acertar, mudar quando preciso, perceber os ensinamentos que a vida nos proporciona.
Desapego: por mais doloroso que seja a despedida, seja ela geográfica, sentimental, ou pela volta à pátria espiritual, é preciso deixar que o outro siga seu caminho, é preciso desapegar-nos, é preciso respeitar a liberdade do outro, ou então, o momento do outro, é preciso entender e aceitar que cada um de nós tem um caminho a ser seguido, e um momento para seguir adiante. é preciso não perguntar "por que vc fez isso comigo?", "por que você me deixou?" pois seria egoísmo. é preciso desapegar-se da lembrança de como foi a partida, pode ser que pela forma como foi torna tudo mais difícil e insuportável. É preciso lembrar do sorriso e dos bons momentos vividos. O que se deixou de viver? Não sabemos. Afinal não sabemos do amanhã, não sabemos como teria sido a vida da pessoa que partiu, o que sabemos é da vida que foi vivida. É preciso desapegar-se do passado, é preciso ter consciência do hoje (a única certeza que temos é o momento presente), e nesse caso o hoje significa dizer adeus e seguir adiante, cada um seguindo o seu caminho. Nesse caso o hoje é sentir a saudade, e deixar a tristeza tomar seu rumo na velocidade certa, um pouquinho mais fraca a cada dia, talvez nunca totalmente, mas a cada dia um pouco mais amena. Saudades? Sempre!
recentemente um amigo postou em seu blog um artigo chamado "sobre nossas perdas" e fiquei pensando: como posso perder algo que não pertenço? então decidi escrever esse post com o título "sobre as despedidas", pois a vida da minha irmã pertence a Deus, assim como a minha, como a de todos nós. Somos tod@s filhos de Deus que nos "cede" a nossos pais para que cuidem de nós na experiência terrena, assim como eles foram "cedidos" a seus pais e assim por diante. (sugestão de leitura: nossos filhos são espíritos). um dia tod@s voltamos para os braços do Pai celestial.
minha irmã estava casada havia 15 dias e estava muito feliz por ter realizado esse sonho. quero guardar essa lembrança desse momento que ela estava feliz, sentindo-se bonita e especial.
(clique para ver algumas fotos)
Casamento de Monica e Sérgio |
Monica era sensível, de coração aberto e bom, atenciosa, um pouco frágil, às vezes um pouco nervosa, às vezes ingênua e sonhadora. Dei muito trabalho a ela quando criança, e sei que peguei muito no seu pé depois que ficamos adultas, algumas vezes sei que não lhe dei a atenção que merecia, e outras vezes não fui paciente com ela. Mas espero que ela tenha sempre conseguido sentir o meu carinho por ela, e como me importava com o seu bem-estar.
Monica, siga seu caminho, que nele haja muita luz e benfeitores te acompanhando e fazendo chegar até você as vibrações do nosso carinho.
Aqui deixo meu abraço de solidariedade para tod@s que já tiveram que despedir-se de alguém assim repentinamente, e para tod@s que já sentiram a dor da despedida.
Mais uma vez deixo registrado a imensa gratidão por tod@s que tem nos ajudado, segurado nossa mão, estado presente em nossas vidas de diversas formas. Como é boa a sensação do carinho sincero, da solidariedade, do sorriso amigo.
Ao Pai e a Jesus, nosso Senhor, nossa mãe Maria e a todos os benfeitores amigos, nosso humilde agradecimento pelo amparo e fortaleza que tem nos concedido.
Que Deus abençoe a tod@s com muita luz e paz.
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A verdadeira felicidade é podermos proporcionar felicidade aos nossos semelhantes.
“derrame generosamente seu amor sobre os pobres, o que é fácil; e sobre os ricos, que desconfiam de todos, e não conseguem enxergar o amor de que tanto necessitam. E sobre seu próximo - o que é muito difícil, porque é com ele que somos mais egoístas.
Ame. Jamais perca uma oportunidade de dar alegria ao próximo, porque você será o primeiro a se beneficiar disso - mesmo que ninguém saiba o que você está fazendo. O mundo á sua volta ficará mais contente, e as coisas serão muito mais fáceis para você.
Eu estou nesse mundo vivendo o presente. Qualquer coisa boa que eu possa fazer, ou qualquer alegria que puder dar aos outros, por favor, digam-me. Não me deixem adiar ou esquecer, pois jamais tornarei a viver este momento novamente.
(in “O dom supremo”, Henry Drummond [1851-1897])”
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