terça-feira, 9 de dezembro de 2008

consideração sobre algumas colunas de jornais...

Tornei-me assinante de jornal aos fins de semana e passei a acompanhar algumas colunas, então percebi que algumas simplesmente retratam o cotidiano de seus autores, como por exemplo: passei a conhecer a infância de um deles, sei como é a vida de recém-casad@ de outr@, como foi a visita (uma de muitas) à casa da irmã que mora no exterior, como se dá a relação dos diversos animais de estimação de um, as conversas da família daquele, a infância no sítio, o que se vê da janela do apartamento, como foi a odisséia ao viajar de metrô numa tarde chuvosa na cidade do Rio e perceber a falta de respeito que diariamente sofrem os passageiros, principalmente nos horários de rush e em dias de chuva, o que outr@ acha das novas, e jovens, divas do jazz e blues de hoje, ou o que achou do novo filme do Wood Allen, ufa! mas apesar de estas colunas sempre trazerem alguma informação extra atuando como ligação entre um fato e outro, por várias vezes me peguei pensando “deve ser fácil ser colunista pois é só falar do seu cotidiano” ou então “por que estou lendo isso mesmo?”... mas continuo lendo, tornou-se hábito e vontade de saber o que eles tem de novo para contar...


Hoje fiquei pensando: E se eu fosse colunista de um jornal, o que escreveria?...

Janeiro, 2006. Acabo de chegar da Holanda onde fui batizar a filha de um casal de amigos, uma criança globalizada, pois a mãe e irmã mais velha são nicaragüenses, o pai holandês e a madrinha de batismo é brasileira. Foi emocionante ver a neve pela primeira vez, o que me fez lembrar da música White Christmas, ou Natal branco, tema de um dos diversos filmes americanos que gira em torno da volta de soldados para suas casas, neste por exemplo, os donos de uma pousada estavam tristes pois a previsão era de que não nevaria naquele Natal, e por isso teriam poucos hóspedes. Desnecessário dizer que tudo ficou bem no final, afinal era um filme, e sendo assim a neve apareceu a tempo para celebrar a noite de Natal, houve reencontros e também casais apaixonados e vivendo felizes para sempre, e todos cantando I’m dreaming of a White Christmas, just like the ones i used to know...”. Fiquei encantada com o céu azul da Holanda, e surpresa pelos números de aviões que cruzam aquele céu, admirei também a limpeza nas ruas, ônibus pontuais, as florestas, as muitas bicicletas, e os canais e castelos? Tão lindos e românticos. Lembranças de um velho mundo... Foi difícil enfrentar todo aquele frio e a trabalheira para colocar tantas roupas, meias, cachecóis, luvas, gorros, ufa, e depois ao entrar num local fechado ter que tirar luvas, gorros, cachecóis (por causa do aquecedor), e depois colocar tudo de novo para encarar o frio da rua. Mas apesar do frio externo houve muito calor humano, pois fui muito bem recebida pela família e amigos dos meus amigos-compadres, fiz novos amigos, ganhei presentes e por algumas vezes me emocionei. O vôo era com conexão em Paris, apesar de ter conhecido apenas o aeroporto me dou o direito de dizer “conheço Paris”! e fiquei frustrada por não ter visto a Torre Eiffel da janela do avião. De volta a terra natal, com deliciosas lembranças e deliciosos chocolates holandeses na mala.

Janeiro, 2008. Acabo de chegar do Quênia. E para começar devo dizer o quanto me senti grata por ter tido esta oportunidade, foi uma grande emoção. Para chegar ao Quênia passamos por Johannesburgo e isso fez crescer o número de cidades do exterior que eu conheço. Aliás acho que eu conheço pelo menos um dos lugares que faz parte da lista “lugares que todos deveriam conhecer antes de morrer”, por exemplo Macchu Picchu, mas este é um assunto para outra coluna. Em Nairóbi, capital do Quênia, me surpreendi e me emocionei com a altivez de seu povo, a beleza das mulheres, seus penteados, muitas tranças, verdadeiras obras de arte em suas cabeças, o colorido das roupas, o brilho de sua pele, o sorriso nos lábios. E como caminham, o povo segue andando, daí entendemos o sucesso dos maratonistas quenianos nas diversas maratonas que acontecem mundo afora. É um país preto, quase não se vê brancos, a maioria voltou para a Europa, e sendo um país preto são eles que vemos nas propagandas, nos telejornais, e nos outdoors, bem diferente daqui do Brasil, que apesar de ser um país mestiço muitas vezes mostra-se como se fosse um país europeu. No Quênia também vimos fortes diferenças sociais e nos perguntamos como esse povo mantém aquela altivez, será a energia que vem do sol? Ou algum elemento que sopra no ar?... Há também casos de violência (sexual, roubos), mulheres com crianças no colo, e crianças sozinhas, pedindo dinheiro na rua, um trânsito caótico, é preciso ter cuidado nas ruas, e muito sorriso no rosto quando falamos que somos do Brasil. Ronaldo, futebol, carnaval são as perguntas freqüentes que ouvimos quando estamos fora de casa. Há muitos muçulmanos por lá e tivemos a oportunidade de visitar uma Mesquita. A entrada das mulheres é na lateral, um lado do prédio bem diferente e bem mais simples do que a entrada principal, faz sentido... para eles. Ficamos hospedados na casa de Mama Peris, uma senhora muito educada, culta, simpática e atenciosa, que cuidou da gente e compartilhou conosco, de sua casa, de seu alimento e de suas histórias. No dia em que me despedi de Mama Peris ela me disse ser Bantu, e segundo uma prima é bem provável que nossa família também tenha raízes Bantu, que alegria foi este momento. Mama Peris e eu decidimos que somos parentes! Quando escrevo para ela assino como sua filha bantu-kikuyu-brasileira. No Quênia fiz amigos, quenianos e brasileiros, e acredito ter fortalecido outros laços de amizades.

Setembro, 2008. Cheguei na estação de trem e após ter comprado um bilhete avulso diriji-me a catraca, e a máquina, que deveria estar com algum problema, engoliu o cartão mas não liberou a catraca para eu passar. Chamei a funcionária que estava ao lado, eu tinha provas que tinha um cartão em mãos, expliquei que a catraca não foi liberada e pedi que ela liberasse para eu passar pois o trem já estava chegando. Tal surpresa foi ouvir da funcionária que ela não poderia liberar. Acreditem, a única solução seria eu comprar outro bilhete. Surpresa e indignada, e vendo o trem passar, comecei a argumentar com a funcionária, o que de nada adiantou. Passaram-se dez minutos, ela falou com um supervisor pelo rádio e este deu a mesma resposta. Descobri então que não existe qualquer entrada, além das catracas, que permita a passagem de uma pessoa para a estação, os funcionários utilizam um cartão funcional que tem créditos para passar na máquina que libera a catraca, se ela usasse para liberar a minha passagem certamente faria falta para ela. Certamente faltou respeito, desta concessionária, para com seus clientes, também faltou preparo dos seus funcionários para certas eventualidades, faltou traquejo e educação da funcionária ao falar comigo, faltou boa vontade e autonomia para os funcionários, pois ela poderia simplesmente entregar um novo cartão, para que então eu pudesse entrar na plataforma da estação, e relatar o ocorrido num livro de Ocorrências que, se não tem, deveria ter naquele guichê. Conclusão: tive que comprar outra passagem, e esperar mais 10 minutos por outro trem, o custo total dessa viagem foi de R$ 5,20 quando deveria ser de R$ 3,00. O que faria aquele que infelizmente algumas vezes não dispõe de um trocado extra na bolsa?

Estou pensando, acho que minha vida não daria um livro mas talvez rendesse algumas colunas, que pensando bem poderiam ser transformadas em livros daqui a alguns anos... são festas surpresas, flores vindas da Holanda (claro que apenas o pedido foi feito lá, as flores são daqui, viva a globalização e a internet!), chocolates e peças de arte que me chegam da Holanda, país com o qual tenho um forte laço e afinidade, conversas via torpedo com amigas em plena madrugada, falando da vida ou somente querendo saber como a outra está, estórias de engarrafamento, trens cheios, trens que demoram para chegar, festas de aniversário em ônibus, samba na Lapa, samba em Paraty, festa da cachaça em Paraty, admirar golfinhos na praia às seis e meia da manhã, música, família, amigos, viagens de trabalho...

Agora resta saber quem se interessará por pagar e por ler! :-)